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sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

FATOR QUEBRA MOLA

Quem não conhece o chato e velho “quebra-mola”? Também chamado de “lombada” ou “ondulação-transversal” em algumas regiões do Brasil. A função teórica desse obstáculo do trânsito é muito simples: obrigar o motorista a diminuir a velocidade. Mas obrigar como? Da seguinte forma: ou você pára ou seu carro já era. Na prática é diferente: a sinalização é péssima, os quebra-molas têm, muitos, tamanhos e formas absurdas (quase um muro) e você muitas vezes só descobre que existe um quando já está passando por cima, destruindo seu carro e colocando sua vida em risco. Sim, quebra-molas matam.
Mas porque estou falando disso? O motivo é o seguinte: ao pensar bastante sobre a existência do quebra-mola e sua função, concluí que o quebra-mola é mais que um obstáculo. Ele é um símbolo. Um símbolo tão forte e coerente como nosso país, que acho que deveria ser impresso na bandeira do Brasil. Quebra-mola para o novo símbolo nacional, já!
Para entender isso, vamos à simbologia. Quebra-mola é uma exclusividade de países sub-desenvolvidos, e o Brasil, com certeza, é o líder absoluto em quebra-molas. Alguns países mais ricos, têm também, contudo são somente o que conhecemos como “sonorizadores”, que só servem para alertar o motorista e não representam nenhum risco para o carro ou para a vida. Mas no Brasil é diferente. Os brasileiros não cumprem as leis de trânsito; as autoridades do trânsito são sangue-sugas e incompetentes, e os quebra-molas são os únicos que, através de uma espécie de ditadura, conseguem fazer a lei ser cumprida.
Pesquisando pela internet sobre os quebra-molas, descobri um artigo de Bob Sharp onde ele diz que o quebra-mola “É um recurso burro e antinatural para reduzir a velocidade do tráfego”. Concordo, e digo mais: isso reflete toda a realidade brasileira, tanto o quebra-mola, quanto a definição do sábio Bob.
O Fator Quebra-Mola (FQM), que é como chamaremos essa simbologia agora, pode ser aplicado em toda e qualquer situação política ou social do Brasil. Tentarei ilustrar:   
Imagine um motorista. Ele está numa estrada onde o limite de velocidade é de ridículos 30km/h. Obviamente ele vai dirigir entre 60 e 80km/h (isso se for um motorista MUITO prudente, pois os mais “comuns” vão estar a 100 ou 120km/h, pois nossa sinalização de trânsito, tanto quanto os limites de velocidade, deveriam ganhar o prêmio de melhor piada do século). Esse motorista vai se deparar com um quebra-mola que o obrigará, então, a diminuir a velocidade. A questão é que, logo que passar pelo quebra-mola, vai se deparar com a pista livre e aumentará a velocidade de novo.
Agora vamos aplicar o FQM: Um político corrupto é preso pela Polícia Federal (que tem se mostrado muito competente), fica alguns dias preso, é interrogado, monta-se CPI ou julgamento, ele é absolvido e logo já está exercendo seu papel de ladrão transvestido novamente.
Deu para entender? Polícia = Quebra-mola; Judiciário/CPI = Pista livre para acelerar de novo.
Esse é um exemplo entre milhares. Aplique o FQM em qualquer coisa do Brasil que você verá como é “impressionantemente” certo.
Agora me veio à idéia de que a polícia, principalmente a militar, é bem parecida com o quebra-mola mesmo: se diminuir e passar com cuidado, tudo bem, mas se passar por cima, vai se arrebentar (com sopapos, abuso de autoridade, cacetete, etc.). Mas justiça seja feita: já vi muitos policiais competentes e sensatos, contudo, nesse caso, eles são atropelados pelo judiciário, pelos baixos salários, pela impotência de manter um prisioneiro preso e, no final das contas, todo mundo se f*** (é a única palavra que define isso, desculpe), menos os criminosos.
O FQM também se aplica na educação: O aluno acorda, vai para aula do ensino público e se depara com professores mal-pagos, mal-amados e com ordens de aprovar todo e qualquer aluno burro ou ignorante para que o índice de reprovação seja baixíssimo nas estatísticas para as próximas das eleições. O que impressiona é que muitos desses professores se recusam a educar marginais, e querem REALMENTE EDUCAR. E é aí que o professor se torna o quebra-mola dos alunos que, sem estímulo da sociedade e da mídia para adquirir conhecimento, vêem aquilo como uma obrigação chata e, logo que toca o sinal, vão embora correndo para assistir Malhação, Big Brother, Gugu, Faustão, e outras porcarias populares.
Observando o FQM de forma mais generalizada, podemos ver uma ampla e triste variedade de aplicações. O quebra-mola, no trânsito, é a conseqüência de um país mal-governado, mal-habitado e mal-educado. Não se consegue – eu diria “quer” – educar e impor limites, então usa-se um tosco quebra-mola para ameaçar a vida e o patrimônio do cidadão, que são as únicas coisas que parecem respeitar. E, assim, o FQM é aplicado em tudo: ao invés de educar, cria-se cotas racistas nas universidades; ao invés de fazer boas estradas, prega-se placas com limites de velocidade ilusórios; ao invés de prender, abre-se espaço para as empresas de segurança particular; ao invés de punir corruptos, abafa-se o caso para a população não se sentir ferida; ao invés de criar vergonha na cara e não fazer sexo em praia pública, manda-se bloquear o YouTube… e por aí vai…
Mas quem se importa? Enquanto houver bunda, futebol e carnaval deixa o resto prá lá.
Por Christian Gurtner - 10.06.2007

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